Toulouse (França): Frente à repressão, a informação é uma arma

Suspeita de ser responsável pela publicação de um artigo na página IAATA.info (site colaborativo e antiautoritário de Toulouse), uma pessoa está sendo perseguida pela Justiça. Por que acreditamos que informar sobre a repressão policial é uma ação legítima e necessária, veiculamos a presente denúncia contra a criminalização e intimidação das mídias independentes.

Em 7 de maio, os jornais anunciaram que um homem toulousano foi acusado de realizar “incitação pública ao delito ou crime”. Ele é considerado suspeito de ser “um administrador” do site IAATA.info. A perseguição está relacionada à publicação de um artigo sobre o protesto de 21 de Fevereiro de 2015, em Toulouse. O protesto foi organizado um ano depois do protesto realizado na cidade de Nantes contra o aeroporto de Notre-Dame-des-Landes, em cuja oportunidade três pessoas atingidas por balas de borrachas acabaram tendo seus olhos mutilados. O referido protesto tinha o seguinte lema: “Contra os atos de violência policial e em apoio às ZAD”. [1]

O artigo sob acusação ensina algumas medidas de resistência contra as técnicas de repressão policial responsáveis pela morte de Rémi Fraisse e pela mutilação de vários manifestantes oriundos de bairros populares. Lembremos que, após a morte de Rémi, 60 pessoas foram perseguidas e 4 presas nos protestos de novembro contra os abusos policiais. Lembremos também que a polícia francesa mata 10 pessoas por ano. Recentemente, foram mortos pela mesma as seguintes pessoas: Amadou Koumé, em Paris; Abdelhak Gorafia, em Roissy; Pierre Cayet, em Saint-Denis; Abdoulaye Camara, em Le Havre; Morad, em Marseille; Houcine Bouras, em Colmar; Bilal Nzohabonayo, em Tours; Rémi Fraisse, na ZAD de Sivens; Timothée Lake, em Toulouse – sem contar o grande número de mutilad@s e ferid@s por armas policiais.

Há anos uma grande quantidade de pessoas tem lutado contra o autoritarismo policial. As mídias independentes, os coletivos militantes e as associações e famílias de vítimas publicam regularmente, através de panfletos, cartazes, guias de autodefesa jurídica e meios virtuais, conselhos para que os manifestantes possam se defender fisicamente durante as marchas e garantir a privacidade cotidiana de suas comunicações telefônicas e virtuais. À medida que a polícia segue mutilando e matando impunemente, a automídia se torna indispensável. É inaceitável ser perseguid@ ou pres@ por “incitação pública ao delito ou crime”, quando na verdade estamos apenas nos protegendo das violências policiais.

Há bastante tempo, indivíduos e movimentos sociais têm utilizado os meios de comunicação com o objetivo de garantir a difusão de informações alternativas, a coordenação de lutas e a emergência de uma voz distinta daquelas que dominam os meios de comunicação. IAATA.info é mais um exemplo dessa tendência social contemporânea.

IAATA é uma página aberta à participação de todas e todos. Ela garante o anonimato dos seus colaboradores e congrega as forças coletivas de uma cidade. A polícia busca identificar um(a) responsável para culpar e isolar, assim individualizando o processo de perseguição. Entretanto, não há nenhuma responsabilidade editorial individual em IATTA, pois, como muitas outras entidades, seu funcionamento coletivo é participativo, desprovido de hierarquia e antiautoritário.

A investida repressiva estatal diz respeito a todos nós. Demonstremos ao governo nosso espírito de determinação! Seguiremos apoiando e difundindo todos as informações sobre autodefesa contra os aparelhos policiais e jurídicos! Continuaremos levando adiante projetos de mídia livre, independente e antiautoritária contra as intimidações do Estado!

Atacar um de nós é atacar todos nós! Afirmamos nossa solidariedade com as mídias independentes e com todos @s reprimid@s!

(9 de maio de 2015)

Primeiros apoios: Rebellyon, Paris-Luttes.info, Brest-Info, Renverse.ch, la Rotative, Reims médias libres, IAATA, Rennes Info, le Jura libertaire, Article 11, Soyons sauvages, Espoir Chiapas, Collectif Bon pied bon oeil, Atelier médias libres, Courant Alternatif, Éditions Acratie, Panthères enragées, Primitivi, Éditions Albache, Jef Klak, Le Numéro Zéro, La Brique, La Lettre à Lulu, Révolte numérique, Radio Zinzine, zad.nadir.org, Contre-faits, Collectif Ciné 2000, L’actu des luttes (radio Fréquence Paris Plurielle), Journal Résister (Nancy), Revue Lutopik, Le collectif Contre Les Abus Policiers – C.L.A.P33, L’Orchestre Poétique d’Avant-garde O.P.A., L’Envolée, Lundi Matin, Radio Canut, Lignes de force, Demain le Grand Soir, Archyves, Revue Z, Le Canard sauvage, Indymedia Nantes, Hors Sol, Confusionnisme.info, Mille Babords, Iacam, La Gazette de Gouzy, Le Monde Libertaire, Regarde à Vue, Canal Sud, La Horde

Quem desejar inscrever sua página eletrônica em nosso manifesto coletivo, basta escrever para paris-luttes-info[@@@]riseup.net.

[1] ZAD: “Zona a Ser Defendida” pelos movimentos libertários. Trata-se de várias e, em especial, a de Notre-Dame-de-Landes (localizada em Nantes), composta por uma imensa área de proteção ambiental na qual reside uma grande comunidade libertária defensora da área. Desrespeitando os moradores e a inegável importância da natureza local, o atual governo francês decidiu utilizar a área para a construção do maior aeroporto da Europa.