Espanha: História de uma ocupação do patrimônio histórico da CNT mais legendária

Continuamos nesta edição, visitando nossos locais sindicais. Desta vez, adentramos em uma das ocupações do patrimônio histórico da CNT mais legendária, com 33 anos de trajetória.

I. Nistal | Periódico CNT

“Em 1º de Maio de 1980, após a manifestação usual entre Valdeaceras e Cuatro Caminos, uma centena de cenetistas entrou no local situado no Nº 2 do Pso. Alberto Palacios de Villaverde Alto. […] Essa ocupação era uma das que se faziam (e ainda fazem) para exigir a devolução do patrimônio roubado da CNT pelos fascistas”.

Desta forma começa um folheto publicado em 2005, para marcar o 25º aniversário da ocupação do atual edifício onde está situada a CNT de Villaverde Alto, um bairro operário localizado ao sul de Madri. Convertido em bairro-dormitório, tem sido protagonista de importantes lutas trabalhistas e de vizinhos.

Antes da ocupação, foi documentado no Registro de Propriedade e informado que o edifício foi construído em 1960 no terreno onde havia existido a cooperativa “El Pan del Obrero”, formada por trabalhadores anarcosindicalistas. Além disso, no Registro ainda figuravam os terrenos em nome da cooperativa. Explica Pascual González, um dos seus militantes mais ativos: “Com o triunfo dos golpistas, a fábrica foi demolida e no local se construiu o atual edifício que foi, até meados dos anos setenta, a sede do sindicato vertical. Após a sua dissolução, este edifício ficou abandonado durante um par de anos. Não foi muito, mas na época ficou praticamente destruído”.

Tocava começar a trabalhar e em poucos dias foi realizada a limpeza, remoção de entulhos e encerramento das instalações, outros faziam guarda dia e noite e os especialistas reconstruíam as paredes, tetos de gesso ou escadas. São momentos de muito entusiasmo, mas também de grande tensão após a permanente ameaça de grupos fascistas ou ante a possibilidade de que a qualquer momento a polícia iria aparecer para desalojá-los. Toda essa tensão contida se transbordou em uma ação simbólica quando um companheiro se empoleirou na fachada principal do prédio e arrancou o grande escudo metálico dos sindicatos franquistas.

Após este trabalho preliminar, começaram a florescer os projetos. O Ateneo Libertário e a Comarcal Sul da CNT foram os primeiros e os que têm perdurado ao longo do tempo. Também apareceria a Escola Infantil Pequeno Companheiro, o Centro Libertário de Saúde, a Cruz Negra Anarquista, Mulheres Livres de Madri, o jornal Tierra y Libertad… mesmo a secretaria geral da AIT! Vale a pena mencionar a querida Fundação Anselmo Lorenzo, depositando desde a sua criação os arquivos e catálogos no Ateneo até adquirir um local muito próximo adequado para eles . E esses projetos do passado deram lugar ou se misturaram com outros novos como o grupo de teatro, a Assembleia Antifascista do bairro ou 15M Villaverde, dando vida ao edifício constituído por um piso térreo com um grande salão de atos e dois andares mais, o primeiro com um belo terraço com vista para a avenida. Inclui ainda um anexo que foi ginásio e três quartos no primeiro andar.

E foram por essas paredes que passaram muitas pessoas e projetos, que houve todo tipo de oficinas, rádios livres, concertos, restaurantes, mercadinhos… e algumas visitas ilustres como as de Javier Krahe, um convidado assíduo nas jornadas libertárias.

Com vocês, o Ateneo Libertário de Villaverde, talvez a mais antiga ocupação ativa no Estado espanhol.

Fonte: Periódico CNT nº 407 – Janeiro 2014

agência de notícias anarquistas-ana: http://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2014/02/11/espanha-historia-de-uma-ocupacao-do-patrimonio-historico-da-cnt-mais-legendaria/

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