Propôr e apresentar umas Jornadas Libertárias, só pelo que significa cada uma destas palavras, é difícil, porque entre nós e o Outro as palavras alimentam fossos e tecem rupturas. Mas também aproximam e geram cumplicidades. O desafio germinou na periferia do nosso ser e estar durante a primavera de 2015, entre encontros e desencontros, afinidades e des-afinidades, como um corpo a corpo necessário e imprescindível.
As Jornadas Libertárias 2015 que pensámos, desde cedo, como um terreno exploratório, revelam-se uma necessidade e acabam por chegar ao Porto num momento em que são mais precisas: numa altura de oportunismos políticos feitos de aproveitamentos desviantes de várias questões que nos afectam o quotidiano. Este ar pestilento é destilado por uma crise co-produzida pelo capitalismo e pelo estado para perseguir o ciclo de gestão de todos os aspectos das nossas vidas, perpetuando o subterfúgio de uma ordem e organização social submissa, obediente e reprodutora de mecanismos autoritários.
Estas Jornadas reflectem uma vontade conjunta para criar um espaço disruptivo, de comunicação e de troca envolvendo experiências e pensares em torno das nossas vivências no contexto político actual. Cada actividade proposta procurará um questionamento de base sobre nós e o mundo em que somos forçados de sobreviver, de forma a podermos pisar um chão que, ainda que não chegue a ser o mais propício, pelo menos o façamos nosso.
As datas procuraram definir-se de acordo com outras andanças, as que se ajustavam às nossas vontades, actividades e disponibilidades precárias por natureza imposta, fixando-se no Outono, nos dois primeiros fins de semana de Outubro, quiçá porque a sua luz rasante proporciona uma íntima percepção dos detalhes, sem nos ofuscar. Foi deste modo que, entre reuniões e conversas, temas foram surgindo: do espaço que habitamos, ao ser e estar nesse mesmo espaço, até à nossa ligação ao resto do mundo que nos é afim e a outros imaginários possíveis e desejados. São várias as mãos, as inquietações, os olhares, pensares e fazeres que se juntaram, por vezes sem se conhecerem, para abrir outros espaços de pensamentos, convívios, debates, confrontos e manjares, como um porto aberto sem lugares definidos para atracar, ou lançar-se ao mar, na cidade do Porto.
O programa destas jornadas navega por espaços afins, entre o Espaço Musas, a Rosa Imunda, o Rés-da-Rua, o Gato Vadio, o Terra Viva e a T.O.R.Re, com projecções, jantares veganos, apresentações de publicações, debates e conversas em torno de formas e palavras malditas, da pedagogia libertária às cidades “inteligentes”, de questões feministas e femininas ao envolvimento anarquista na causa palestiniana, na sociedade e no trabalho.
As Jornadas abrirão as portas no dia 2 de Outubro e esperam reunir e receber o máximo de cúmplices, num espaço criado para as palavras se juntarem à prática. Durarão até dia 11 do mesmo mês mas a ideia é que a sua energia não se encerre e permita continuar a abrir novos caminhos para lá dos que nos impõem como possíveis.
Que comece o festim!