Durante audiência realizada na tarde desta quarta-feira (7 de novembro), o Juiz Walter Zwicker Esbaille Junior mandou despejar as 450 famílias Sem Terra moradoras da usina falida de Ariadnópolis, em Campo do Meio-MG. Ele deu o prazo de sete dias para desfazer a ocupação.
Com essa decisão serão destruídos 1.200 hectares de lavoura de milho, feijão, mandioca e abóbora, 40 hectares de horta agroecológica, 520 hectares de café. Além disso, centenas de casas, currais e quilômetros de cerca serão derrubados. Essa ordem destruirá tudo o que as pessoas construíram em duas décadas de trabalho.
De acordo com os advogados de defesa das famílias, a decisão é arbitrária e fere princípios constitucionais ao não reconhecer valores de dignidade humana. A audiência aconteceu de maneira atípica. Houve restrição para a entrada da representação das famílias acampadas e impedimento de autoridades que se deslocaram para acompanhar a audiência.
Durante a condução do rito, o juiz solicitou a presença da tropa de choque dentro da sala. Os representantes do latifúndio, junto com a prefeitura local, propuseram alojar as famílias em um ginásio. Por fim, o Juiz sequer leu a sentença, apenas informou rapidamente a decisão.
O Movimento dos Sem Terra está recorrendo, diante da decisão arbitrária e injusta. As famílias reafirmam a disposição de seguir a luta e resistir a mais essa investida da velha usina.
É sabido que a veia fascista do projeto eleito ao governo do Brasil vai intensificar o uso de toda máquina do estado para criminalizar e segregar o povo Sem Terra. Assim como o fará nas comunidades urbanas. Mas o povo brasileiro é corajoso e forte. O Movimento enfrentou a ditadura militar desde o nascimento. É com essa história e com essa coragem que as famílias do Quilombo Campo Grande irão resistir e permanecer nas terras de Ariadnópolis. Não vai ser uma liminar de despejo que apagará tantos anos de luta.
Segue a nota publicada às vésperas da audiência pelas famílias do Quilombo Campo Grande:
“Nós, famílias da regional do MST do Sul de MG, do Quilombo Campo Grande, queremos denunciar a ação fascista contra a nossa luta de 20 anos.
Aqui, as famílias, depois de tantos anos, já contam com infraestrutura de energia elétrica, casas de alvenaria e produzem uma grande diversidade de produção agroecológica, como café, muitas variedades de milho, feijão, hortaliças, frutas, sementes orgânicas gado, galinhas, porcos.
Essas famílias geram, com seu trabalho, soberania alimentar, não apenas para quem produz e vive na terra, mais para milhares de pessoas que passaram a ter acesso a um alimento saudável, sem veneno e de qualidade.
Os acampamentos também geram distribuição de renda. A terra, que era apenas de um dono, agora traz dignidade para quase 450 famílias, mais de 2.000 pessoas que estavam quase tendo seu sonho de ter a posse da terra realizado com um decreto estadual.
Mas agora, através de um conluio jurídico entre os grandes fazendeiros, deputados da bancada ruralista e empresas do agronegócio da região, estão organizando um processo de despejo para as famílias que moram e resistem ao longo desses 20 anos de luta.
Inaceitável a situação! Há dois meses atrás as famílias quase tinham sido assentadas e agora podem perder tudo o que construíram ao longo desses anos.
Esses é um dos conflitos agrários mais antigos do país. Pedimos apoio das organizações parceiras, amigos, apoiadores, para estarem presentes no dia da audiência dia 7 de novembro as 13h, no fórum de Campos Gerais.”
Este artigo e esta nota foram publicados no site do MST.