Polícia resolveu abordar pessoal já só restavam meia dúzia
Enquanto em Lisboa a polícia de intervenção perseguia, cercava, identificava e revistava 50 das 200 pessoas que ao fim da tarde de ontem se manifestavam contra o despejo da okupa de S. Lázaro ocorrido pela manhã; no Porto, idêntica manifestação em frente ao edifício da câmara municipal aconteceu sem interferências. A registar apenas o caricato incidente final dos agentes de autoridade se aproximarem a perguntar pelo “organizador” e a querer a identificação de uma pessoa, para fazer registo da ocorrência não solicitada. Restavam no local meia dúzia de pessoas, eram já nove da noite. Ninguém se intimidou, ninguém foi identificado.
Vindo do Largo da Fontinha, o pessoal juntou-se a Almeida Garrett pouco passava das sete da tarde, num percurso ao som de tambores. Durante duas horas, a autoridade fez-se somente notar ao lado estacionada, em forma de automóvel da PSP, mais tarde rendido por uma carrinha azul, e no topo de um dos prédios laterais, com os habituais paparazzis que teimam em esconder-se enquanto registam as presenças no terreiro da câmara.
Cá em baixo, umas 50 pessoas. Conversas de amigos, jornalistas a querer informações. Uma faixa: One Struggle One Fight Solidarity Worldwide. Meia dúzia de pancartas: Mais vale ocupado do que abandonado; Lei? Que direitos para quem?; Polícia de Segurança pública passou a ser polícia de segurança política; Solidariedade com S. Lázaro 94. E uma conclusão de ocasião marcada em cartões que outrora foram caixotes: Ocupa, Rio Roseta cidades diferentes A Mesma Merda. Os tambores persistentes. De Lisboa chegavam notícias de agressividade policial. No Porto, tudo sereno.
A noite anunciava-se, o encontro estava quase a terminar, as pessoas dispersavam, os tambores cansaram-se. Estavam menos de uma dezena a acabar a conversa, quando os agentes – pelo menos um de azul e dois de colete reflector amarelo – se aproximaram de um grupo de jovens chegados de Coimbra com quem insistiram querer a identificação de um, porque ali tinha ocorrido uma manifestação “não autorizada”. “Então não posso estar aqui a conversar com os meus amigos?” – pergntava a rapariga de vestido azul petróleo. Que não era o caso, argumentava a autoridade, apontando para o que considerava “palavras de ordem” escritas em cartões que já foram caixotes, abandonadas nas escadas de acesso a Almeida Garrett. Ninguém mostrou qualquer disponibilidade para se identificar, os homens estavam nervosos, tinham ordens. Conferenciam entre si. Quem resta no local, decide que chegou o momento de partir. A carrinha azul estacionada arranca também, para parar uns metros à frente, junto à Igreja da Lapa, onde havia cerimónia religiosa no exterior, muita gente e fila para comprar velas.
Vá lá a gente entendê-los.
Publicado em http://pt.indymedia.org/