Um grupo de famílias Kaingang, reunindo cerca de 60 pessoas, iniciou na manhã de sábado (12) um processo de retomada de uma área localizada entre os municípios de Passo Fundo e Carazinho, no norte do Rio Grande do Sul. As famílias vieram de acampamentos Kaingang instalados na região que vêm sofrendo repetidas ameaças e operações de despejo. No dia 15 de fevereiro deste ano, um grupo de 12 famílias Kaingang foi alvo de uma violenta operação de despejo por parte da Brigada Militar, que resultou em vários feridos por balas de borracha e motivou uma nota de repúdio por parte do Conselho Indigenista Missionário (Cimi).
A comunidade de famílias Kaingang decidiu dar o nome de “Goj jur” (rio nascente) para a retomada. “Estamos só retomando o que já foi nosso, o que é nosso de direito, pra não deixar a nossa cultura morrer. Queremos uma escola dentro da aldeia para as nossas crianças que, na cidade, são deixadas de lado e sofrem muito preconceito”, diz Nilvo Dias. Letícia Dias também destaca a intenção de abrir uma escola na área retomada para ensinar às crianças tanto o português quanto a língua Kaingang.
“Estamos aqui para fazer essa retomada das terras que pertenceram a nós no passado. Estamos aqui pelas nossas crianças, pelos nossos pais que estão aqui lutando junto com nós e para que possamos um colégio e um posto de saúde aqui. Com a nossa luta, pretendemos ficar neste lugar”, acrescenta Lucimara Mariano.
Os Kaingang são um povo originário dessa região que é hoje um dos principais focos de conflitos fundiários do Estado. Eles foram sendo expulsos de suas terras pelo processo de colonização e expansão da agricultura. No século XVII, viviam na área que viria a se tornar o Rio Grande do Sul cerca de 40 povos indígenas diferentes. Quatro séculos depois, restam pouco mais de 30 mil indígenas e apenas quatro grupos de povos indígenas vivendo no Estado: Kaingang, Gurani, Charrua e Xokleng. Os Kaingang representam o grupo mais numeroso, totalizando cerca de 30 mil pessoas vivendo divididas em várias áreas do Rio Grande do Sul.
Este artigo foi originalmente publicado no jornal Sul 21.