Nos últimos meses, diversas ocupações foram realizadas na Grande Vitória. Dentro destas, os Edificios Sagres e Santa Cecília, ambos no centro da cidade, foram ocupados no último mês de julho por dezenas de fámilias. Nas últimas semanas, membrxs e apoiadorxs de ocupações urbanas decidiram formar o Coletivo Resistência Urbana e lançaram o seguinte comunicado:
COLETIVO RESISTÊNCIA URBANA: NECESSIDADE NA LUTA PELO DIREITO À CIDADE
Manifesto de lançamento do Coletivo Resistência Urbana
“Digamos juntos, de coração: nenhuma família sem casa, nenhum camponês sem terra, nenhum trabalhador sem direitos, nenhuma pessoa sem a dignidade que o trabalho dá” (Papa Francisco)
A sociedade capixaba é desigual. A separação entre ricos e pobres, o abismo de renda entre aqueles que vivem no estado do Espírito Santo, não se expressa apenas nas contas bancárias. Toma também corpo físico, se apresenta no espaço e deixa explícito na geografia das cidades para quem ela serve e a quem ela exclui.
Ao olhar para as cidades observamos a barbárie: os pobres na periferia, geralmente longe de seus locais de trabalho ou, quando nos centros da cidade, nos morros. Em todas essas regiões observamos uma cidade pobre para os pobres, os serviços públicos precarizados a ponto de não haver qualquer presença do poder público que não seja a repressão policial. Escola e postos de saúde de qualidade, atividades culturais, transporte público eficiente chegam apenas no desejo do povo, nunca em seus bairros.
As cidades, portanto, cresceram para quem tem dinheiro. É muita gente que não tem casa própria e é muita casa sem gente servindo serve de especulação para os ricos acumularem ainda mais dinheiro. E o resultado são aluguéis caros que comprometem a cada dia que passa a renda do povo. E, desse jeito, torna-se cada vez mais difícil conciliar uma vida minimamente digna e o pagamento dos alugueis. O direito à moradia digna, constitucionalmente garantido (artigo 6º), abordado no Estatuo das Cidades (artigo 2º) e em algumas cidades, como a de Vitória, regulamentado também pelo PDU (artigo 3º), é magicamente esquecida pelos governantes.
E o que fazer quando não conseguimos mais pagar o aluguel e comprar comida ou pagar a passagem do ônibus com nossos salários e o poder público a isso nada nos responde? OCUPAR! Ocupamos os térreos vazios que há décadas estão parados só para especular, ocupamos os prédios abandonados nos centros urbanos (que só no centro de Vitória são mais de 100!), ocupamos tudo que nos é de direito e nos foi negado!
O Coletivo Resistência Urbana surge, portanto, da necessidade de disputar a cidade em todos os sentidos!
Queremos ocupar tudo que está abandonado, tudo que está especulando, toda propriedade que não serve a sua função social!
Mas também queremos lutar por mobilidade urbana, incentivo a cultura popular e acesso ao serviço público de qualidade pelo povo!
AS OCUPAÇÕES URBANAS SÃO UMA NECESSIDADE DO POVO CAPIXABA!
VIVA A LUTA POR REFORMA URBANA!
(O comunicado foi publicado no ínicio deste mês na página do coletivo).
Fontes: Coletivo Resistência Urbana, Século Diario.