O povo Krenyê recebeu nesta quarta-feira (27), das mãos do presidente da Fundação nacional do Índio (Funai), Franklimberg de Freitas, a escritura da Fazenda Vão Chapéu, que passa a se chamar Reserva Indígena Krenyê; criada em junho de 2018, contando com 8,35 mil hectares e localizada no município de Tuntum, no Maranhão. Os indígenas aguardaram pelo dia de hoje durante longos 15 anos e, para as lideranças Krenyê, só aconteceu porque houve mobilização do povo e seus aliados, caso da Teia dos Povos e Comunidades Tradicionais.
Há um ano atrás, no dia 23 de fevereiro de 2018, os Krenyê realizaram uma retomada da Fazenda Vão Chapéu para pressionar a Funai a pagar a indenização e entregar a escritura ao povo. “A Funai fez um compromisso e não cumpriu, se a gente tivesse esperando a gente teria morrido. Nós não precisamos de cesta básica. A gente precisa da terra. Esse pensamento de ocupar é porque a gente não suporta mais”, protestou na ocasião o cacique Cwujkaa Krenyê.
Levou ainda mais um tempo para Cwujcwaa ver a Funai cumprir com o seu dever junto ao povo Krenyê. “Insistimos tanto pela nossa terra, que foi sonhada pela gente, sempre com a esperança de um dia termos nossa reserva. Tivemos aliados nos ajudando, mobilizamos e fomos pra Justiça. É uma demanda histórica e estamos felizes com o que conquistamos”, afirmou o cacique Cwujkaa Krenyê logo após a cerimônia de entrega da escritura, que ocorreu hoje na própria reserva.
Cwujcwaa Krenyê informou ao presidente da Funai a decisão das famílias indígenas pela formação de uma comissão interna para consolidar a organização social do povo. Com este instrumento, explicou Cwujkaa, a intenção é defender os direitos sociais e culturais dos Krenyê e possibilitar o controle social das políticas públicas. São quatro famílias que já vivem na reserva.
Um outro aspecto destacado por Cwujkaa ao presidente do órgão indigenista é que a organização social do povo cumprirá o papel de receber os demais Krenyê espalhados pelo Maranhão e pelo país. Os indígenas acreditam que a partir de agora, com a reserva garantida, outras famílias devem se dirigir a Tuntum em busca de uma terra segura para criar filhos, filhas, netos e netas.
Os Krenyê foram expulsos da terra tradicional na década de 1930. Depois do episódio, até a criação da reserva, nunca tiveram uma área de usufruto exclusivo. Conforme dados do Serviço de Proteção ao Índio (SPI) e da própria Funai, chegou a ser um povo considerado extinto. Ao longo dos mais de 80 anos, os Krenyê moraram de favor em diferentes terras tradicionais, de outros povos, caso dos Guajajara, Krikati e Timbira, até que em 2009 foram expulsos da Terra Indígena Rodeador.
De lá para cá, os Krenyê perambularam e viveram em periferias de cidades como Barra do Corda, pulando de casa em casa sempre que pagar o aluguel se tornava insustentável. No entanto, as famílias que agora estão na reserva se mantiveram juntas, de uma forma ou de outra. “As articulações do povo passaram por cima dessas dificuldades. É uma história que contamos porque está viva na lembrança. Disseram até que estávamos extintos. E hoje podemos defender essa história e os nossos direitos”, pontua Cwujkaa.
Fonte: CIMI / Para ler o texto completo: CIMI.