Neste Outono de 2012, a oposição ao projecto do aeroporto de
Notre-Dame-des-Landes [Nantes, França] entra numa fase delicada. O eco que ela conseguiu ter noutros sítios para além da zona directamente afectada vai ser determinante para o futuro desta luta.
Criar uma zona de desenvolvimento diferido (zone d’aménagement différé, ZAD), estabelecer prioridade de compra, comprar, destruir umas quantas casas, encenar uma burla sob forma de um dispositivo democrático, certificar o projecto como sendo “de utilidade pública” antes de começar os primeiros trabalhos de sondagem. Tudo isso está feito.
A zona que o Conselho Geral despejou e cedeu à Vinci [multinacional francesa, maior empresa de concessões do mundo] começa seriamente a esvaziar-se. Assediar as pessoas com um contrato de arrendamento precário para as convencer a ir embora, preparar o despejo dos desobedientes (os que ocupam ou os que deixam de pagar a sua renda) e expropriar os últimos que não venderam os seus terrenos e edifícios: esta é a tarefa actual dos decisores. A ofensiva chega num período chave, porque se trata de expulsar uma boa parte dos habitantes antes dos primeiros trabalhos da grande estrada de acesso em 2013.
Ao contrário dos rumores espalhados pela imprensa quanto à falsa “moratória” concedida pela canalha do PS, não se trata
senão de uma promessa, que não lhes custa nada, de não expulsar aqueles que recusaram negociar até agora, até ao fim de alguns recursos jurídicos. Na verdade as pessoas implicadas continuam a sofrer pressões cada vez mais fortes para se irem embora.
Esta luta teve uma reviravolta determinante em 2009, com o convite a ocupar os espaços abandonados. A escolha de habitar no próprio terreno concentrou forças localmente. Mas o risco é que as expulsões impliquem o fim do envolvimento de todas as pessoas de aqui e de outros lugares que aqui se cruzam e estabelecem laços em torno das práticas de organização autónoma e duma crítica das políticas de ordenamento do território.
Se esta história do aeroporto é efectivamente o elemento que permitiu a muitos se encontrarem, é também a forma pela qual escolhemos confrontar este mundo. Confrontar a mercantilização dos espaços, o controlo das nossas vidas, o controlo das populações, toda uma política repressiva e autoritária que nos diz respeito a todos no nosso quotidiano, seja nos bairros, na escola, no trabalho ou nos movimentos sociais. A expulsão dos habitantes da ZAD para a construção do aeroporto, símbolo desta política, não pode ser deixada sem reacção.