Niterói (RJ – Brasil): Aldeia Caiçara Imbuhy é desalojada pelo exército

Foram demolidas ontem, 7/12, pelo exército brasileiro as moradias de pelo menos cinco famílias de pescadores artesanais, moradoras históricas da centenária aldeia caiçara do Imbuhy na região oceânica de Niterói. A ação repetiu, em proporções ainda maiores, a covardia acontecida no último dia 23 de março, quando foi mobilizado um aparato bélico jamais visto no local – helicópteros, lanchas, tropas, spray de pimenta e armamento pesado – tudo isso para expulsar três famílias de pescadores de suas casinhas rústicas, que foram postas abaixo em poucas horas.

Por mar, terra e ar, nossos bravos soldados combateram senhorinhas aposentadas, acompanhadas apenas de seus animais de estimação (cerca de 60% da população tradicional do Imbuhy é composta por idosos). A exemplo do que já havia acontecido em despejos anteriores, a abordagem se deu de surpresa, por tática do alto comando militar. Mais uma vez, em nome da ‘’segurança nacional’’, familiares, jornalistas, advogados e ativistas foram impedidos de acompanhar a “operação’’.

A notícia do desalojo chega após os pescadores terem recebido declarações de apoio dos mais variados políticos, inclusive da presidente Dilma (a quem, pelo menos tese, o exército está diretamente subordinado). Mas o que está sendo visto na prática é a mais completa omissão de todas as instâncias do governo federal, que está preferindo manter suas “boas relações” com as forças armadas, dando carta branca para o estabelecimento definitivo de um resort exclusivo para oficiais de frente para a praia. Não por acaso, em um dos pontos mais valorizados pela especulação imobiliária no município.

O poderio que os militares ainda detêm, mesmo décadas após a instauração do “Estado Democrático de Direito’’ no Brasil e sob a égide de um governo dito “de esquerda’’, se reflete também no sistemático silêncio da imprensa corporativa a respeito do assunto. Desde a chegada do exército, todo tipo de abuso tem sido relatado pelos moradores. Pescadores são coagidos a entregar parte de sua pesca aos milicos. Pessoas doentes são impedidas de fazer o caminho mais curto para chegar ao hospital. Casas com rachaduras são impedidas de serem reformadas, pois materiais de construção são impedidos de entrar.

Visitantes são intimidados através da obrigação de fornecerem todos os seus dados para sentinelas armados. Nos nossos jornalões, no entanto, nenhuma linha a respeito de qualquer uma dessas denúncias. As únicas informações veiculadas são no sentido de que o despejo estaria sendo “negociado’’. Prova de que a censura empresarial pode ser tão ou mais eficaz que aquela levada a cabo pelo governo.

’SEGURANÇA NACIONAL’’ PARA QUEM?

Diante de uma tragédia como esta em curso no Imbuhy, algumas perguntas se tornam inevitáveis: ‘’segurança nacional´´ significa acesso restrito à praia localizada na entrada da baía de Guanabara? Quem recebe carteirinha de livre acesso ao paraíso? Quem controla o cadastro de amigos do Exército? Quem se incomoda com a presença da comunidade tradicional da Aldeia do Imbuhy? Quem autoriza as festas de réveillon dos militares e amigos? Quem autoriza o Exército a promover aterros e cortes de árvores sem estudo de impacto ambiental na “área de marinha/terreno da União”? A praia do Forte Imbuhy está sendo reservada para quem?

Por: Aldeia Rexiste

Texto originalmente publicado no site Midia Coletiva.

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