Moradores do Complexo de Favelas do Alemão, zona norte do Rio de Janeiro, protestaram na tarde desta terça-feira (14) após uma ação da Polícia Militar (PM) assassinar Jean Rodrigo Aldrovande, professor de jiu-jitsu que dava aulas em um projeto social na região.
Jean era mestre na escola Maneco Team e funcionário contratado pelo Ministério do Esporte. Segundo relatos, o professor, que seguia uma dieta firme e estava focado nos treinos, caminhava em direção a escola de artes marciais onde trabalhava, quando a polícia entrou atirando na localidade conhecida como Canitar. O esportista foi atingido na cabeça e morreu na hora.
Moradores denunciaram que os agentes negaram socorro a vítima. Revoltados, montaram barricadas em uma das ruas de acesso à favela, com galhos de árvores, pneus, lixeiras e outros objetos, que foram queimados. Os policiais responderam com spray de pimenta.
Um dos manifestantes, enquanto ajudava a erguer uma barricada gritava para a repressão: “vai matar mais gente inocente?”
No começo da noite, os manifestantes voltaram a bloquear as ruas com barricadas. Policiais atiraram com balas de borracha contra a multidão. Em seguida, disparos de armas de fogo também foram ouvidos.
Na escola de treinamento, alunos recordaram a dedicação de Jean ao esporte. Emocionados, eles mostraram o quimono que o mestre usava nas aulas. A faixa, marrom, representa a penúltimo nível antes da graduação máxima, que é a faixa preta.
A família do atleta, sabendo da prática da polícia de acusar todos os pretos e pobres que assassina de serem “traficantes”, encaminhou um recibo de pagamento de salário do professor para evitar especulações. E mais uma vez é a vítima que tem que se explicar.
Letalidade policial no Rio é a maior dos últimos 21 anos
As Polícias Militar e Civil do Rio mataram 434 pessoas de janeiro a março deste ano, segundo o Instituto de Segurança Pública (ISP-RJ). Foram quase cinco (4,82) mortos por dia, recorde para o período na série estatística de 21 anos, iniciada em 1998.
Cinco dos oito trimestres com mais casos desde o início da série histórica são justamente os cinco mais recentes: os quatro de 2018 e o primeiro de 2019. Em comparação com os primeiros três meses do ano passado, o mesmo período deste ano apresentou um aumento de 18% nas mortes. Antes de 2018, ano da intervenção militar na segurança pública, o estado nunca havia ultrapassado a marca de 400 mortes pelas mãos de policiais em três meses.
As mortes continuam no trimestre em curso. Só em quatro dias de maio, da sexta-feira, dia 3, à segunda-feira, dia 6, pelo menos 13 pessoas morreram por ação policial: quatro no morro do Borel (zona norte), uma na Rocinha (zona sul) e oito nas favelas do Complexo da Maré (zona norte).
Via Mídia 1508.