Grécia: o Estado e os fascistas de mãos dadas contra anarquistas e imigrantes

Enquanto o ataque ao bairro rebelde e solidário de Atenas acaba de começar na segunda-feira (26/08), as máscaras caem!

Sim, você leu corretamente: entre outros, são policiais [foto] usando distintivos fascistas que iniciaram a “limpeza de Exarcheia”. Não escondiam sua pertença e não deixavam de ser zelosos.

Enquanto o [partido] Aurora Dourada está desaparecendo, derrotado nas ruas por grupos antifascistas, suas instalações fecham uma após outra, sua sede principal estará à venda em breve, seu bairro favorito foi abandonado e as demissões de seus líderes chovendo desde a perda de todos os seus assentos no parlamento, algo ainda permite que os neonazis se alegrem: o ataque do Estado grego contra o bairro libertário e antifascista, onde muitos imigrantes vivem livremente.

Esta é uma verdadeira vingança para os neonazis gregos, alguns dos quais trabalham na força policial e às vezes se reconhecem através de sinais que se referem diretamente à mitologia do Aurora Dourada. É um momento excepcional para participarem do ataque ao bastião antiautoritário de Atenas.

Na Internet, a fachosfera está animada em “ver Exarcheia desaparecer”. Muitos desenhos sugestivos mostram fascistas destruindo símbolos anarquistas ou jogando refugiados em acampamentos.

A narrativa do ataque de ontem na mídia está completamente distorcida, como se poderia esperar. Falam de “tratamento humano” e até delicadeza. Nem a pau! Violência e destruição foram usadas e temos evidências.

Vários refugiados foram sacudidos e insultados, até uma menina foi brutalmente empurrada pela polícia a ponto de ter um dente quebrado, como confirmaram membros da okupa Spirou Trikoupi 17.

Muitos objetos foram destruídos e jogados fora, incluindo lembranças de grande importância para nós. Cadeiras foram quebradas antes de serem jogadas no caminhão de lixo e até pacotes de fraldas foram vistos misturados nas latas de lixo.

Durante sua campanha, Mitsotakis alegou atacar terroristas. Na realidade, só atacou pacotes de Pampers (muitos pacotes de fraldas e outros suprimentos para crianças que os membros de comboios anteriores conhecem bem). Mitsotakis afirmou que nossas okupas serviam de esconderijo para o tráfico de drogas. Ele apenas encontrou brinquedos e alguns doces.

Na verdade, foi ele que aterrorizou crianças chorando e mulheres que lutaram por sua emancipação.

Enquanto isso, testemunhas escutaram muitos dos que estavam recolhendo que riam a gargalhadas em volta dos caminhões de lixo, que confirmaram claramente a extensão do racismo com as pessoas que vieram para “emigrar”.

Vendo o bairro acordando e mais militantes se aproximando, a polícia antiterrorista enviou pela segunda vez para repelir um possível contra-ataque, com armas automáticas nas mãos. Vários desses homens encapuzados e armados debochavam em voz alta: – Então, cadê os antifas?

Durante as notícias do meio-dia, a mídia a serviço do poder se entregou ao conteúdo de seu coração, insistindo na vingança do Estado contra aqueles que vivem como cães, “o retorno da ordem e da lei” (nome dado à operação pelo próprio Mitsotakis). Várias agências de notícias e sites intitularam: “a polícia (EL.AS) entrou em Exarcheia para ficar lá”.

Em outras palavras: a polícia está tentando ocupar Exarcheia. Outras notícias da televisão, como na ERT, mais uma vez enfatizou a presença de estrangeiros da Europa Ocidental e, em particular, franceses entre os solidários, mencionando que um dos três militantes presos na okupa Kalidromiou é francês.

Outros ainda mostraram fotos tiradas dentro da Spirou Trikoupi 17, evocando condições de vida supostamente indignas. Veja a foto desse lugar e me diga com franqueza: é melhor viver assim, livremente, com respeito e igualdade, ou em uma barraca (ou em um contêiner), em um acampamento fechado?

A partir das 18 horas de ontem, os ativistas de Exarcheia se reuniram no entorno da okupa Notara 26 para mostrar seu apoio, sob a faixa NO PASARÁN e os novos cartazes.

Em seguida, uma manifestação improvisada em direção à praça central do bairro, atraindo cada mais e mais pessoas ao redor. Mais de 1000 pessoas no total, apesar da forte queda da população do bairro em agosto (como em qualquer outro lugar em Atenas). E finalmente, alguns companheiros conseguiram colocar uma faixa “Não podem desalojar um movimento” na fachada da Spirou Trikoupi 17, cercada como a okupa vizinha Transito no número 15.

Durante a noite, várias ações de represália foram realizadas em vários lugares na Grécia, por exemplo, na nova sede da Nova Democracia (o partido de Mitsotakis) em Patras, tinta vermelha e uma frase: “Abaixo a repressão, não toquem nas okupas! NO PASARÁN! NO PASARÁN!”.

Simultaneamente, na França, faixas de apoio à Exarcheia foram colocadas em várias cidades, incluindo La Réole, perto de Bordeaux.

Na manhã seguinte, faixas foram colocadas em várias cidades: Fougères, Madrid, Roma, Berlim, Viena, Chicago, Saillans na movimentada floresta de Osterholz em Wuppertal, Alemanha, sem mencionar dezenas de fotos de apoio enviadas espontaneamente por muitos companheiros de luta, às vezes com seus filhos.

Em Atenas e em outras partes da Grécia, as reuniões se multiplicaram apesar do mês de agosto e há cada vez mais pessoas. Ações estão sendo preparadas mesmo em algumas cidades distantes. Em Atenas, um grande encontro acontecerá em Exarcheia neste sábado ao meio-dia. E uma grande manifestação acontecerá no dia 14 de setembro, provavelmente com muita gente.

O governo quer retirar os anarquistas e outros revolucionários do bairro? Terá muito o que fazer, porque Exarcheia também há o Rouvikonas e outros grupos menos conhecidos, mas determinados a não deixar isso acontecer. E há especialmente outros rebeldes em outros setores que não concordam com esse capricho do príncipe.

Estado e fascistas querem expulsar os imigrantes? Também poderia ser complicado: as chegadas na costa leste do mar Egeu são tão numerosas que não vemos isso desde 2016. Além do poder, sabe-se porque acabou de se amontoar 21.000 imigrantes nas ilhas do mar Egeu, incluindo 9.300 no sombrio campo de Moria (Lesbos), onde vários refugiados morreram por causa de maus-tratos nos últimos meses.

Pior ainda, o Estado colocou 600 menores imigrantes isolados em um acampamento especial de 150 lugares na ilha de Lesbos. As condições de vida são tão duras neste acampamento fechado e apertado que se costumam acontecer brigas. Numa delas, no domingo, viu a morte de um adolescente afegão. Ele queria escapar do horror de seu país de nascimento e finalmente morreu aos 15 anos em um campo de concentração desenhado pela União Europeia na Grécia (lembramos das estadias de Bernard Cazeneuve e seus funcionários e técnicos em Lesbos em 2016).

O fascismo não está morto com o desaparecimento do Aurora Dourada. Está bem vivo. E decidido a se vingar, na Grécia, contra o surgimento das utopias antiautoritárias nos últimos anos e a recepção exemplar de refugiados pelo movimento social muito melhor do que pelo Estado.

É, portanto, muito mais que um desalojo de um único bairro na Europa que ameaça acontecer, também a confrontação de duas visões diametralmente opostas do mundo.

NO PASARÁN!

Yannis Youlountas


Ocupações em Atenas https://radar.squat.net/pt-br/groups/city/athens/country/GR/squated/squat
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